Demorou, mas começa a sair nossa série sobre os pilotos mais obscuros que andaram na Fórmula 1. E alguns deles são bem famosos em outras competições. Alguém lembrava de Giacomo Agostini sobre quatro rodas? Pois o italiano, 15 vezes campeão mundial de Motovelocidade, fez muitos quilômetros de Fórmula 1, só que sem nunca largar em um GP oficial.
Correu, sim, com os melhores da época no GP Dino Ferrari de 1979, disputado em Imola, mas sem valer para o campeonato. Agostini adotou a velha filosofia (que sempre dá errado) do “quão difícil isso pode ser?”, ao trocar as duas rodas pelos cockpits. Fundou sua própria equipe, que tinha outros quatro pilotos de pouco renome, e comprou chassis FW06 da Williams, que já estavam para lá de aposentados.
Para se ambientar, escolheu correr no British Formula One Championship, basicamente uma segunda divisão nacional dos ingleses, usando carros de anos anteriores. Por lá, circulavam Fittipaldis F5A, Arrows A1, WolfsWR4, Surtees e até alguns Lotus 78. Todo mundo com motor Cosworth ou Hart.
Os títulos facilitaram a vida de Giacomo em conseguir uma boa granda da Marlboro como patrocinadora da brincadeira. O time era bem estruturado e arrumadinho. Só que o carro era o grande calcanhar de aquiles. Tinha até ganhado corridas dois anos antes no Mundial, só que ainda era um modelo convencional, apoiado nos aerofólios. Eis que o britânico Rupert Keegan descolou um Arrows A1 e Emilio de Villota surgiu com o Lotus 78, ambos carros-asa, com efeito solo. Em resumo, muito mais velozes em curvas.
O FW08 era confiável, o que permitiu alguns pódios ao italiano. Foi segundo em Snetterton, superando o Lotus de De Villlota, mas ficando atrás do Arrows de Keegan. Depois, ainda faturou dois terceiros lugares, em Zandvoort e em Oulton Park. No fim de 79, oitavo lugar no certame.
Veio, então, o GP Dino Ferrari em Imola, e a chance de se digladiar contra os caras da F1, Niki Lauda a bordo de sua Brabham, Gilles Villeneuve com a poderosa Ferrari e o colega campeão Jody Scheckter, além de Riccardo Patrese, Carlos Reutemann, Keke Rosberg, Patrick Tambay, Vittorio Brambilla, Elio de Angelis, todos vencedores ou eventuais vencedores na F1.
Agostini não fez feio, e classificou num respeitável décimo lugar no grid. Foi melhor que Bruno Giacomelli no Alfa-Romeo oficial de fábrica e ainda ficou na frente de Tambay numa McLaren e de De Angelis com a Shadow. Veio a corrida e, mesmo com o FW06 sentindo a diferença de performance contra os F1 “de última geração”, com regularidade ele repetiu o décimo posto. Cruzou uma volta atrás do vencedor Niki Lauda, após 40 passagens em uma hora de corrida. Chegou perto de rivais mais rápidos por conta do alto desgaste dos pneus nos carros-asa.
Lá na frente, Villeneuve liderou no começo da corrida, até sofrer com pneus muito desgastados e ser ultrapassado por Lauda. Devolveu o passão e a dupla batalhou por cinco voltas, até que Lauda botou por dentro e Villeneuve fechou, causando uma batida. Lauda seguiu sem problemas, o canadense teve que ir para os boxes, perdendo uma volta. Foi um show. Recuperou aquela volta e ainda escalou o pelotão até fechar em sétimo.
Para 1980, Agostini e companhia revisaram os FW08 e tentaram até improvisar um pouco de efeito solo no carrinho. “Encaixado com o modelo”, o italiano somou mais quatro pódios, sempre com o terceiro lugar. Só que De Villota tinha arrumado um FW07, com efeito-solo e o escambal. Ganhou cinco corridas e foi campeão. Agostini fechou em quinto e guardou de vez os Williams na garagem.
Assista abaixo à corrida completa de Imola: