
Giulia: “Criei a proposta a partir de duas coisas: a exigência das meninas no grupo do protesto, e o meu conhecimento sobre feminismo” Crédito: Arquivo pessoal / CP
Um abaixo-assinado contra a proibição do uso de shorts em uma escola particular de Porto Alegre provocou um debate sobre o femininos e os códigos de vestuário nas redes sociais. Criado por um grupo de meninas do Colégio Anchieta, o #VaiTerShortinhoSim protesta contra “machismo, a objetificação e a sexualização” na instituição.
A aluna Giulia Morschbacher, 16 anos, foi a autora do texto que já recebeu o apoio de mais de 12 mil pessoas na internet até o começo da tarde desta quinta.
Correio do Povo: Você é amiga das outras meninas criadoras do projeto #VaiTerShortinhoSim?
Giulia Morschbacher: Não, eu não tenho contato com as outras criadoras da campanha. Mas já conhecia esse projeto e acompanhei as mudanças nos colégios. O abaixo assinado foi uma sugestão de uma colega dentro de um grupo no Facebook. Duas meninas do 9º ano criaram o evento, convocando as meninas para protestar contra a regra do shortinho: usaríamos camisetas pretas e shorts. Depois, uma amiga sugeriu criar um abaixo assinado para ficar mais organizado e com mais foco. Então, me prontifiquei pelo abaixo assinado e escrevi também um manifesto, pra deixar bem claro a nossa ideia.
CP: Como foi criada a proposta do abaixo-assinado? Teve ajuda de mais alguém?
Giulia Morschbacher: Eu criei a proposta a partir de duas coisas: a exigência das meninas no grupo do protesto, e o meu conhecimento sobre feminismo. Dresscode é um assunto sobre o qual eu leio bastante. Não tive ajuda, escrevi sozinha.
CP: Você se envolve em outras causas sociais?
Giulia Morschbacher: Eu não participo muito de protestos ou atos públicos. Fui em poucos até agora. Mas me envolvo em outras causas. Além do feminismo, eu participo do movimento contra o racismo, a opressão de classe, contra transfobia, homofobia, contra a fetichização do amor lésbico, contra (o deputador Jair) Bolsonaro, etc. Defendo também causas políticas, como o impeachment, que sou contra; ou as cotas para universidade, que sou a favor.
CP: Com mais debates e fatos da atualidade, as escolas poderiam tornar os alunos em pessoas melhores e mais críticas?
Giulia Morschbacher: Com certeza! Eu acredito que a escola é o MELHOR lugar pra ensinar sobre esses temas e incentivar discussões. A maioria da população brasileira tem acesso à educação (nem sempre de qualidade, como as pessoas mais pobres), e dos 6 aos 17 anos, ficamos em escolas. Imagina passar todo esse tempo aprendendo sobre causas sociais e políticas além de aprender o currículo obrigatório? Ensinar sobre feminismo, luta negra, luta LGBTQ, etc. Tornaria as crianças e os adolescentes muito mais aptos a formar opiniões sobre esses temas e a discutir sobre eles, além de ajudar na criação de uma geração verdadeiramente BOA, feita de pessoas que enxergar as minorias e escutam as suas vozes.
CP: Seus pais tiveram conhecimento do protesto? Qual a reação?
Giulia Morschbacher: Minha mãe teve conhecimento do abaixo-assinado e do manifesto desde o momento em que eu publiquei. Só avisei do protesto depois que já tinha acontecido. Ela nos apoiou e ficou suuuuuper orgulhosa.
CP: Houve reações negativas ao abaixo-assinado? Quais?
Giulia Morschbacher: Sim. Eu não li, mas vi meninas falando sobre comentários negativos nas matérias que saíram sobre o movimento. Algumas pessoas do colégio também acharam que era uma “perda de tempo quando se tem coisas mais importantes pra lutar”. Mas isso acontece sempre que um grupo faz barulho.
por Lou Cardoso
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