Ana Paula Maciel completa uma década de ativismo pelo Greenpeace em abril. Aos 34 anos, a mulher de riso fácil e olhos azuis diz não ter traumas dos quase dois meses em que ficou presa na Rússia, após um protesto no Ártico. Além do inglês, ela é fluente em italiano e espanhol – e afirma que aprendeu a todos os idiomas embarcada.
Hoje, Ana chega a esquecer algumas palavras em português, mas nada grave. Por causa da repercussão do episódio na Rússia, a bióloga formada pela Ulbra em 2007 recebeu um convite para posar nua na Playboy. Diz que aceitou pelo dinheiro. Ela frisa que seu objetivo de vida é combater o aquecimento global.
A ideia de abrir um santuário para animais com o cachê do ensaio para a revista masculina acabou postergada. Após um período de trabalho voluntário em uma instituição semelhante no Brasil, Ana percebeu que o projeto é um pouco mais complexo do que imaginava. Apesar disso, almeja, um dia, tirar o sonho do papel. A proposta é construir um espaço para tratamento de animais resgatados de cativeiro com a possibilidade de visitação pública, uma mescla de hospital veterinário e zoológico.
No ano passado, a ativista tornou-se sócia da irmã em uma lavanderia ecológica. O estabelecimento fica na zona Sul de Porto Alegre e preza pela utilização de produtos de lavagem ecologicamente corretos e 100% biodegradáveis. Apesar do custo mais elevado, pois os detergentes são importados, Ana garante que o negócio é sustentável e tem preço competitivo, já que os equipamentos utilizados – importados da Alemanha – consomem menos água e eletricidade do que as lavadoras normais. É também na zona Sul da Capital que ela reside quando não está se aventurando no mar. Ela divide a casa com outras cinco mulheres: a mãe, a irmã, uma sobrinha e duas cadelinhas.
A ativista conversou com o Correio do Povo na varanda da casa da família na praia de Magistério, no litoral Norte gaúcho, na tarde de sexta-feira.
Correio do Povo: O que tu tá fazendo hoje em dia?
Ana Paula: Eu voltei da Rússia, tive três meses de férias e voltei a navegar. Eu navego três meses para ter três meses de férias. Nesses dois anos, eu já naveguei quatro vezes. Eu nunca parei. Depois daquele episódio, a gente já fez outras ações, em outros lugares, na mesma campanha de aquecimento global e mudanças climáticas.
CP: Qual foram as últimas campanhas que tu participou pelo Greenpeace?
Ana Paula: Fiz uma campanha nas Ilhas Canárias, contra a perfuração de petróleo. Há quatro meses participei de uma ação em Helsinque, na Finlândia, abordando um carregamento de carvão que vinha para uma usina de energia. E a gente também abordou o outro navio quando ele estava chegando na cidade de Helsinque. As duas ações tiveram uma repercussão local muito boa, tanto que a empresa que ia perfurar o poço nas Canárias desistiu de perfurar lá, até porque os habitantes das ilhas não queriam essa plataforma tão perto, pois dependem muito do turismo. Em Helsinque, a usina acabou fechada. Eles estavam conversando sobre fechar a usina em cinco anos e esse processo se acelerou muito com essa ação que nós fizemos. São notícias que não chegam aqui no Brasil, mas são fatos dos quais participei. Eu estava lá, dirigindo uma lancha e fiz porque eu continuo acreditando na causa e não vejo nenhum motivo para parar.
CP: Tu tens algum trauma da tua prisão na Rússia?
Ana Paula: Não. Eu acho que aquilo me fez mais forte no sentido de que eu pude enraizar os meus valores e os meus princípios. É como se aquilo tivesse me mostrado o quão capaz eu sou e nós somos, como um grupo, a organização da qual eu participo, o Greenpeace. Me mostrou o quão forte nós somos juntos. E a mobilização mundial que veio com aquele episódio, nos deu muita força para continuar.
CP: Tu continua trabalhando com teus companheiros que foram presos junto contigo?
Ana Paula: Dos 30 que foram presos naquele episódio, 16 eram tripulantes profissionais como eu sou e todos eles continuam navegando. Eu já naveguei praticamente com todos eles de novo.
CP: Tu pode escolher pelas missões do Greenpeace das quais tu participa?
Ana Paula: Sim. O ativismo que nós fazemos dentro dos navios do Greenpeace é voluntário. Eles me pagam porque hoje eu sou marinheira profissional e, enquanto a gente não está participando de ações e campanhas, nós temos que manter o navio em condições para navegar com segurança e dentro de todas as leis internacionais de navegação. Então, durante esse período, eles me pagam como marinheira profissional do Greenpeace. Quando chega o momento de fazer determinada ação, eu sempre posso escolher participar ou não. Nessa ação da Finlândia, por exemplo, nós tínhamos dois tripulantes que passaram por essa situação lá na Rússia comigo que decidiram desembarcar. Eles desembarcaram e esperaram que o navio retornasse ao porto para embarcar novamente. A gente pode escolher. No momento em que tu acha que o teu preparo físico, mental ou psicológico ainda não comporta a situação, como aconteceu com esses dois rapazes, é possível desembarcar.
CP: Quanto tempo dura uma ação?
Ana Paula: Depende do objetivo. Pode durar horas ou meses. No momento em que nós abordamos um navio para chamar a atenção do Poder Público para aquele problema, assim como pode acontecer que a tripulação atire o ativista de volta para o mar, eles podem continuar navegando com o ativista. E já aconteceu de os navios manterem os ativistas por 5 ou 6 dias até chegarem no próximo porto e só então eles nos devolvem o ativista.
CP: E quanto isso acontece, o que o ativista faz?
Ana Paula: Nós vamos muito bem preparados, porque existe todo um estudo antes de se fazer uma ação. Uma vez na Espanha, em uma ação, nós sabíamos que o navio estava indo em direção a um porto e quanto tempo levaria para chegar. No caso de atirarem um ativista no mar, haveria botes preparados pelo nosso navio para recolhê-los. A gente nunca abandona as pessoas, sendo elas voluntárias ou profissionais dentro dos navios. Sempre mantemos um acompanhamento. Muitas vezes, é apenas uma questão de explicar para a tripulação do navio que está fazendo parte do protesto que a ação não é contra eles. Queremos também que eles entendam que existe um porquê muito maior.
CP: Durante esse teu período de férias, quando tu não está embarcada, o Greenpeace te paga?
Ana Paula: A maioria dos nossos contratos é temporário, de três meses, e esse contrato é dividido em seis salários. Eu estou prevista para embarcar novamente no meio de março, mas não existe nenhuma garantia contratual de que eles me chamem. Um dos nossos navios, o Artic Sunrise (o mesmo em que Ana Paula foi presa na Rússia), irá parar para uma manutenção enorme. Então, nesse período, é possível que eu fique desempregada.
CP: Mas tu só pode trabalhar nesse navio?
Ana Paula: Não, mas nos últimos dois anos foi sempre no Artic Sunrise. É que ele é um navio especial. Por ser um quebra-gelo, ele não tem quilha. Quando tu olha, parece uma banheira de louça. Quando coloca ele em mar brabo, sacode muito. Eu brinco que o pessoal que escolhe a tripulação no escritório do Greenpeace em Amsterdã (capital da Holanda) faz meio que uma seleção natural. A tripulação do Artic Sunrise está sempre escalada para ele, porque não enjoa, não mareia. Quem passa mal e vomita, vai para os outros navios que são muito mais cômodos.
CP: E como foi a primeira vez que tu embarcou em um navio do Greenpeace?
Ana Paula: Eu embarquei em Porto Alegre como voluntária e nós fizemos três meses pela costa brasileira. A tripulação geralmente conta com 16 tripulantes e pode ter 12 nacionalidades diferentes. E todo mundo fala inglês. Daí tu aprende um pouco com um australiano, com um italiano, com alguém do Alasca. Só que é uma mistura de ingleses, uma coisa louca. É como um baiano conversar com uma pessoa do Rio Grande do Sul. As gírias são diferentes, os sotaques, a maneira de falar. E nesses três meses da primeira viagem, o chefe dos marinheiros era brasileiro. E foi ele quem me ensinou todo o trabalho dentro do navio, em português (na época, Ana Paula não falava uma palavra em outro idioma). Os tripulantes do navio acabaram desembarcando na Amazônia e eu fui convidada a seguir viagem pelo Mar do Caribe. Daí trocou o chefe da tripulação e eu só entendia apenas algumas palavras.
CP: E tem algum país que tu ainda não conheceu, mas sonha conhecer?
Ana Paula: A Austrália. (Ana Paula respondeu sem pestanejar. Um pouco depois, o pai dela contou à reportagem que ela está namorando um australiano, também ativista do Greenpeace).
CP: E como faz para manter um relacionamento estando três meses embarcada?
Ana Paula: (Nesse momento, a ativista não segura o riso e solta uma gargalhada) É, a vida de marinheiro é complicada para ter cachorro e para ter hortas. Ter maridos e namorados também é complicado. Mas eu já fui até casada cinco anos, morei em Portugal com esse meu ex-marido que era italiano. Eu o conheci em um navio.
Por Fernanda Pugliero
Cadelinha não é mulher. E eu sou mulher e não cadelinha.
Por que o CP dá destaque a esta senhora(senhorita)? Quantas horas de trabalho produtivo ela gerou? Nossos parques em poa estao precisando de trabalho voluntario para serem reconstruidos alguem se habilita? Isto é produtivo.
Com tantos problemas no Brasil vai nos envergonhar fora.
Desculpe na minha opinião é no mínimo não ter o que fazer.
Vejo o Greenpeace como uma excursão de pessoas pagas com o dinheiro dos Iluminates, que só fazem isto para dar a impressão de que estão preocupados com o clima.Tudo mentira.Até os Rockfeleers dão dinheiro para esta farsa.Veja só que em nenhum momento esta moça, a Ana Paula, se pronunciou a respeito da barragem de Mariana, o maior crime ambiental da história da humanidade e que destruiu toda a cadeia de vida da bacia do Vale do Rio Doce.